terça-feira, 30 de junho de 2009

Governo Barack Obama e o Meio Ambiente

A esperada virada na política climática dos EUA começa, enfim, a tomar uma forma. Se com a crise econômica foram colocadas em xeque as promessas do presidente Barack Obama, agora podemos dizer que o governo americano está se adaptando à nova realidade global. No dia 16/06, a Casa Branca deu o mais importante passo (até agora) neste sentido, ao divulgar um relatório sobre os impactos do aquecimento global no país. Coordenado pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (Noaa) e pelo Laboratório Marinho e Biológico de Woods Hole, o trabalho também contou com o auxílio de diversos estados da federação e agências envolvidas com o tema.

Segundo os diretores do projeto, o essencial na formulação da pesquisa foi eliminar a margem de erro e apresentar conseqüências concretas, as quais às vezes se perdem em meio a tantos boatos e conjecturas apresentados pela mídia. O trabalho visa esclarecer o povo e – principalmente – os políticos americanos quanto à seriedade e dimensão do problema. Como declarou Thomas Karl, um dos diretores do Noaa, “Nós gostaríamos de deixar claro que as mudanças climáticas já estão em curso e afetam de fato nossas vidas. Não se trata de um fenômeno restrito às geleiras do Ártico”.

Segundo o relatório, tempestades freqüentes e alterações em rios já são uma realidade, assim como o aumento das temperaturas e do nível do oceano. Caso nada seja feito, os efeitos serão devastadores: ao fim do século, a temperatura do país estaria 11° mais elevada, pântanos e toda a agricultura da Flórida desapareceriam, os Grandes Lagos ficariam significativamente mais vazios, os vinhedos da Califórnia seriam extintos e as cidades de Nova York e Los Angeles acabariam parcialmente submersas. E estes são apenas alguns exemplos.

Com esta confessão de mea culpa da própria Casa Branca, deverá se acelerar o processo de votação da mais importante proposta de lei em torno do assunto, conhecida por “Waxman-Markey bill”. Elaborada em 648 páginas, a proposta combina a definição de rígidos limites para o emprego de tecnologias e recursos que ameacem o meio ambiente (especialmente em relação à emissão de CO²) com incentivos para aqueles que adotarem rapidamente as fontes de energia limpa e as tecnologias de eficiência energética.

O grande trunfo da proposta é apresentar maneiras de aliar esta revolução com a transformação natural e necessária que a economia americana vem exigindo para se adaptar a uma nova era em que a China desponta como uma ameaça às suas pretensões comerciais. A proposta de lei, portanto, prepara o país para liderar uma nova economia energética, tornando o país pioneiro na implantação de diversos “green jobs” e novos setores e “indústrias” ambientais.

É um fato que esta mudança não depende apenas do governo americano. Caso a proposta seja aprovada, é necessário que a influência do país seja suficiente para que a economia global absorva as intenções americanas e que não haja uma resistência que torne impossível a implantação das medidas necessárias.

A resistência da China é um primeiro aspecto que preocupa. O país já superou os EUA como o país que mais polui e ainda não encontrou uma maneira de conciliar seu crescimento desenfreado com uma política ambiental sustentável. Na realidade, é possível afirmar sem muita dúvida que dificilmente o país encontrará esta maneira. Com terras abundantes em carvão, um dos motores do crescimento, os chineses estão em posição delicada. Mesmo que haja por parte de alguns políticos a consciência do problema, é ingênuo imaginar que em algum momento o bem do mundo será colocado à frente da economia chinesa.

Como a outros países em crescimento – a Índia, por exemplo – também não interessam grandes limitações ambientais, permanece em suspenso o efeito real da nova postura americana. Estamos diante de um grande momento histórico, diante da possibilidade de um salto na relação entre o homem e seu meio. Resta saber se existe, de fato, um interesse global por este salto.



* esse texto é da autoria de Mauro Kahn & Pedro Nobrega. Leia outros 30 artigos destes autores publicados no site www.artigonal.com.br, saiba mais sobre meio ambiente no site www.mbcursos.com.br.

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